Oriki

Brisa que afaga as copas das mangueiras encarapitadas na falésia
no lado de lá das águas à espera de que se cumpra o tempo
relógio diário dos peixes fulgor dos corais prata vermelha
virás, já sabemos, sol a pino
beira d’água sob o fresco das mangas esperamos
o cheiro salgado anuncia a queimar rostos, canoas, pintura das casas
da boca da barra e além teu profundo respirar
viração
vens nas chamas frias nervosas das pequenas ondas
que fazem girar de novo um mundo enlanguescido
que a manhã encontrara frio e sobre o qual passara a acumular calores
terras areias regatos que pedem finalmente: vento! e vens.

Percorrer teus desígnios, resistir-te
teus dedos ligeiros afagam o mar arrepio frêmito
aflorar-te, molhar a mão nos teus salgados cachos líquidos
no barandar equilíbrio impossível e desde já vencido
cambar-te afinal, e recomeçar de outra parte
incontornável insustentável direção do caminho reto
inútil caminho reto que te perde em vez de alcançar
flecha que voa e te encontra sempre onde já não estás
própria alma da flecha vento chama
estás na caverna quente que pulsa no centro
do corpo no meio do corpo na beira do corpo
e espalha vermelho sobre o verde das folhas
búfalo-peixe-fruto carne do mundo mãe do fogo
dai-nos agora e sempre e mais e quando
fazendo-nos crer
crianças que somos
que por artes próprias te rastreamos
e perseguimos e lutamos e vencemos
sem saber por que brincas de alvo se é teu o sopro
se reconduzes a flecha de volta a ti mesma
e irrompes, e ris, e reinas, e és senhora, e imensa, Oyá.

Um comentário:

joana medrado disse...

mundo enlanguescido, percorrer teus designios, resistir-te, cambar-te afinal, e recomeçar de outra parte, bufalo-peixe..... gosto muito dessas frases, parece onda de mar, maré, parece vai e vem, parece amor, é otima metafora, é lindo fabinho, é lindo esse texto e sentimento.