Primeiro eu vou na tua casa, te rondo
com olhares esguios e observações desprovidas
de significado, ouvimos um pouco de música.
No cinema os olhos fixam beijos
de celulose, os tais que nos velam o sono
– cínico. Brincamos de amigos, te rondo
com os dedos famintos – você finge,
depois se lança sobre mim como
um míssil teleguiado, exata e minúcia.
Na festa,
todos os cantos são nossos, te rondo
com a língua com os olhos com fotos
cores vôos gritos motos dentes setas etc.
Rio. Da fumaça do teu cigarro saem
poses, gestos de rua, versos tardios, alertas.
Mas aceitei o desafio. Aqui estou,
taquicárdico e nu frente aos palanques
de onde gritarão microfones e farão calar
outras bandeiras e baionetas.
Aqui estou.
Não serei venda ou bruma antes que amanheça.
Serei talvez fogueira, insuspeitada,
consumida por estrelas que morreram
há bilhões de anos. Você, granada,
lança, apocalipse. Você, estilhaçada
em meio aos campos metálicos da vida
e escorrendo em lágrimas vazadas do neon
com que vibrar nossos nervos de aço
e voá-los em disparada.
Farei meu
o chão que eu piso. Quando nada
farei meu teu corpo, que me entra
por todos os sentidos e mais uns outros sete
ou oito. Mas dentro em pouco
tudo isso é só fumaça,
e o teu cigarro num canto da sala pasma
como a um grito de alarma.
Então largo no chão teu cadáver
ainda um pouco aceso;
vou embora, me jogo do viaduto,
e talvez ainda persiga por muito tempo
o teu fantasma.
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