Não estou para ninguém. Me deixa só
no meu canto, um caco de janela
nessa planície de escombros de onde emergem
logotipos gliterados. Não. Não e não.
O telefone vai tocar a noite inteira
porque eu simplesmente não posso:
estou soterrado sob o peso de lençóis
alvíssimos, estou deitado na extensão imensurável
dos fatos de anteontem – minha cama de jornal
eu já não faço – você sabe, eu poderia,
mas não faço – e toda a superfície das mucosas recoberta
por essa cera lisa e impermeável.
Não tenho nada a declarar. Nunca
tive nada a declarar. Sinto desapontá-los,
senhoras e senhores, mas o que eu disse antes
era mentira. Tenham paciência,
tirem esses microfones da minha cara,
devo ingressar no claustro para a reza semanal.
Estou grudado a minhas roupas e a alguns conceitos
antecipados – passo impune pela polícia, pelos vizinhos,
pelo relógio na parede – agora estou livre,
uma gravura grotesca colada num painel amarelado.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário